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Vênus Recall 

Como objeto meu corpo está em constante recall de problemas criados para que as peças nunca se encaixem, minha natureza é rejeitada e tudo que demonstra que sou um corpo vivo é visto como um defeito que deve ser anulado

A representação de Vênus na história demonstra como a mulher é percebida pela sociedade. Por isso, a proposta desta obra é trazer uma crítica à percepção que se tem da mulher no século XII, que hoje é vista como um objeto.

A inspiração para essa obra vem da minha pesquisa em design, que debate sobre a função e o significado. Krippendorff (2007) aborda que as pessoas não agem apenas conforme as características da matéria, mas também com base nos seus significados. São esses significados que guiam a função que um objeto terá.

 

Quando a mulher é percebida como um objeto, espera-se que ela exerça essa função perante a sociedade.

Como objetos, não nos é permitido envelhecer, opinar, decidir ou escolher.

Não temos a função de viver, e tudo que demonstra que somos seres vivos é considerado um defeito, que deve ser anulado para que possamos voltar a exercer a função de objeto.

Como objetos, pertencemos a todos, exceto a nós mesmas.

Nossa beleza é definida pela estética de um conceito ideal, intocável, inalcançável, imaginário, “instagramável”, insustentável e irreal.
 

Como objetos, nossos corpos se tornam mercadoria, e enquanto eles lucram, nós pagamos o preço com nossa liberdade e nossa vida.

Inspiração pessoal 

A inspiração para essa obra também se deu por uma questão pessoal. Decidi fazer uma laqueadura, pois não queria gerar uma criança em minha barriga. Ser mãe ainda era uma possibilidade, mas nunca desejei passar pelo processo de gestação. Embora tivesse o respaldo da lei, minha vontade de realizar um procedimento que, em minha percepção, seria funcional, foi questionada inúmeras vezes. Profissionais negaram realizar a cirurgia, argumentando que, se um dia eu me casasse e meu marido quisesse gerar um filho com seus genes em minha barriga, eu iria me arrepender.

 

Um homem   hipotético que sequer existia em minha vida tinha mais poder sobre minhas decisões corporais do que eu mesma.

Além disso, argumentos como “é uma cirurgia QUASE irreversível” e “se você quiser gerar um filho, será por inseminação e é caro” surgiram.

Para realizar a cirurgia, foi necessário expressar minha vontade em cartório, um procedimento desgastante e, de certa forma, humilhante. Nesse momento, comecei a questionar outros procedimentos estéticos, que também são irreversíveis.

Se eu, que sou uma pessoa magra, decidisse fazer uma lipoaspiração, provavelmente não passaria por tantos questionamentos. Não precisaria registrar minha vontade em cartório e esperar um mês para confirmar que essa era realmente minha decisão.

Conectando com minha pesquisa em design, que trabalha com a relação entre função e significado, notei que os procedimentos que têm uma função real para o corpo da mulher são sempre questionados. No meu caso, foi a laqueadura, mas a mídia já apresentou casos de mulheres que decidiram retirar suas mamas para evitar um possível câncer e também tiveram suas vontades questionada

Leitura de obra

A estética do ensaio remete ao Renascimento, buscando a perfeição. No entanto, as cores e elementos contrastam, criando uma beleza triste que associa o sentir a algo não estético. A obra pode ser compreendida tanto de forma individual quanto em série, como detalharei a seguir.

O hematoma  na perna da mulher  representa o defeito que a sociedade espera que seja eliminado. Os tons de cinza que o cercam contrastam com as cores que representam como se ali tivesse um coração pulsante de vida que a mulher tenta segurar, como se existisse uma batalha entre a vida e a objetificação.
 

A proposta de trazer o plástico fazendo referência às estátuas é contestar a artificialidade que existe hoje no conceito de beleza, no que seria uma representação de Vênus para a sociedade, num contraste que tenta mostrar que o sentimento não é estético  numa triste beleza que reprime a essência. Trazendo um vermelho na mão para representar as agressões que nós mulheres fazemos para “combinar” com o que a sociedade nos impõe.

A proposta dessas fotos é  apresentar a pressão que as redes sociais impõem e em um contraste de como a mulher se sente para que ela se pareça com o que vê, ao mesmo tempo trazendo a artificialidade que existe ali, essas fotos conversam com a última foto que representa o que você vê enquanto a última representa que você sente.

Essa foto representa como as redes sociais e esses parâmetros de beleza nos tornam reféns de um padrão inalcançável que nos deixa sem vida

O objetivo dessa foto foi fazer uma referência ao conceito de beleza que é imposto às mulheres, o que possibilita ter um véu entre o que é real e o que é esse ideal que se vende como referência.

O véu também é uma representação das redes sociais, o que provoca uma divisão entre a realidade e o que é mostrado.

Essa foto conversa com as fotos anteriores  onde mostra como a pessoa se sente e como ela se parece.

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